Os relatos mais comuns são de transtornos psiquiátricos. No entanto, alterações neurológicas também têm se manifestado em pacientes pós-covid
Vivenciamos há 3 anos um dos momentos da maior crise sanitária que o mundo já viveu desde a gripe espanhola, a pouco mais de 100 anos. A pandemia da Covid-19 transformou hábitos de higiene, criou novos protocolos sanitários, gerou uma corrida da ciência para a criação de vacinas efetivas e obrigou as empresas a implementarem novos modelos de trabalho, como o home-office.
Passado o período mais crítico, com o avanço da imunização, convivemos hoje com a Covid-19 – é bom lembrar que a pandemia não acabou. Claro que o número de óbitos diminuiu, mesmo com os casos ainda em alta. Dados do Ministério da Saúde de 09/02/2023 registraram 9,7 mil novos casos no Brasil.
Mas, o que persiste nos dias de hoje para muitas pessoas que pegaram a doença são os efeitos da covid longa. Neste texto, vou abordar mais especificamente as alterações neurológicas que algumas pessoas relataram como sequela da Covid-19.
Um estudo da Universidade de Oxford, publicado na revista “The Lancet Psychiatry”, mostrou que 34% dos pacientes recuperados da Covid-19 foram diagnosticados com problemas psiquiátricos ou neurológicos, como ansiedade, depressão e estresse pós-traumático, insônia, dificuldade de concentração, esquecimento, cansaço e névoa mental.
No Brasil, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) avaliaram 425 pacientes acometidos pelas formas moderada e grave da Covid-19, e constataram alta prevalência de transtornos mentais e déficit cognitivo nesse grupo. Transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de estresse pós-traumático e depressão foram os que apresentaram aumento em sua incidência.
No início da pandemia, os médicos acreditavam que alterações psiquiátricas ou neurológicas eram apenas manifestações clínicas da doença. Mas, com o avanço das pesquisas sobre a Covid-19, já se sabe que o coronavírus consegue transpassar a parede das veias e artérias e atingir, por exemplo, o cérebro, gerando uma inflamação dos tecidos nervosos que provoca uma alta resposta imunológica, prejudicando a atividade cerebral.
Um estudo publicado na revista “Nature” apontou que foram observadas micro hemorragias e lesão neuronal com morte de neurônios em diversas regiões do encéfalo em alguns pacientes pós-covid. Geralmente, estas ocorrências estão ligadas a doenças neurodegenerativas.
Este termo foi empregado na medicina para descrever os sintomas apresentados por pacientes que tiveram a doença, como sensação de lentidão, mente cansada, dificuldade para se concentrar, lapsos de memória ou dificuldade para aprender novas coisas.
Essa sensação de névoa no cérebro pode ser explicada porque os pacientes que tiverem a síndrome respiratória aguda, tiveram o suprimento de oxigênio ao cérebro reduzido enquanto estavam com a Covid-19 que, inevitavelmente, prejudicou a atividade cerebral. Esta relação ainda precisa de mais estudos científicos e de casos, mas, preliminarmente, já é possível apontar esta relação causal para as dificuldades cerebrais.
O mesmo estudo da “Nature” mencionado aqui no texto também trouxe outra constatação. Não apenas as pessoas que tiverem quadros graves da Covid-19, com longa internação hospitalar, podem ter reflexos neurológicos, embora a probabilidade deste público de manifestar sintomas da NEUROCOVID é potencialmente maior. Os pacientes leves ou, até mesmo assintomáticos, também podem apresentar alterações neurológicas.
O mais indicado é que o paciente que teve Covid-19 e percebeu dificuldades neurológicas como, lentidão, cansaço mental e lapsos de memória, procure o atendimento médico de um neurologista para uma avaliação detalhada dos sintomas para, assim, encaminhar para o tratamento mais indicado.
O neurologista irá realizar uma série de questionamentos para saber como foi que o paciente passou pela Covid-19 – se internou, precisou ser entubado, quais outras sequelas manifestou, além de testes de fala, de locomoção, motor e de memória. Caso seja necessário, o especialista deverá pedir exames complementares.
Um tratamento multidisciplinar, com fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia também pode ser indicado pelo neurologista.
Artigo escrito pela médica neurologista da Clínica Humanitare, Dra. Raphaela Carneiro Vasconcelos (CRM 151952 / RQE Neurologia 59038 / RQE Neurofisiologia Clínica 590381)
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